“Houve tempo em que as tragédias

Vinham molhadas de angústia

Hoje não. Hoje a televisão

Mostra restos de avião

Entre bacalhau e sabão.

E o incêndio do edifício

Corpos caindo do espaço

Se espatifando no chão

Se interrompe pra Starlet

Com um modess na mão,

Mostrar como é fascinante

A sua menstruação.”

 

Millôr Fernandes

 

 

INTIMIDADES MAL LAVADAS

 

A instalação INTIMIDADES MAL LAVADAS (2009) é um varal com cerca de 15 peças intimas brancas, intencionalmente sujas de barro e pisoteadas, onde foram impressas por transfer notícias coletadas em 2008, algumas superficiais e outras mais sérias, envolvendo famosos em brigas e escândalos com pessoas íntimas suas.

 

As notícias escolhidas eram de interesse restrito mas que receberam grande destaque na mídia, de maneira obsessiva, envolvendo pessoas de todas classes sociais em debates apaixonantes, opiniões desencontradas e muita especulação.

 

Senti um descompasso entre o enfoque dado a estas notícias e a outras mais importantes, como se estas fizessem parte de um espetáculo ou uma farsa e fossem escolhidas de propósito para dar ao povo circo e pão.

 

Ao estampá-las intencionalmente em cuecas, sutiãs  e calcinhas, peças de cunho sexual e mais apelativas, meu propósito era o de causar o mesmo impacto, utilizar as mesmas artimanhas de que se utiliza a mídia para chamar a atenção dos desavisados.

 

Ao montar o varal de escândalos num local público, com bastante transito de pessoas, totalmente imprevisível e não esperado: o hall de entrada do salão de eventos da universidade Feevale, reforcei a ideia de exposição pública do que deveria ser da intimidade de cada um.

 

As peças sujas, amassadas e pisadas, tornadas sem uso e sem valor guardam uma relação com as notícias estampadas nelas, constrangedoras e totalmente dispensáveis a qualquer pessoa a não ser o próprio retratado.

 

A intenção da instalação INTIMIDADES MAL LAVADAS é mostrar o lado perecível das notícias, mas não de sua influência na vida, no caráter e na formação das pessoas, questionando o grande poder da mídia sobre a sociedade, que é levada por uma grande correnteza, engolindo sem perceber notícias inócuas à princípio, mas nefastas a longo prazo, porque induzem interesses impossíveis de mensurar.

 

Observando de forma analítica e não apenas como meio de gratificação instantânea, nossas possibilidades de escolha se tornam maiores!

 

 

Orientação do professor Hélio Fervenza.

Fotos de Jackie Joner

 

 

 

Exposição individual na Pinacoteca da Universidade Feevale, NH/RS - 2009