"A conquista do supérfluo  produz uma excitação espiritual maior do que a conquista do necessário. o homem é uma criação do desejo, não uma criação da necessidade"

 

Gaston Bachelard

MENTIRAS SINCERAS ME INTERESSAM

 

 

MENTIRAS SINCERAS ME INTERESSAM(2010) é uma série de pinturas em acrílica, que buscam refletir sobre a cultura da beleza no universo do consumo e seu poder sobre a sociedade atual. O foco deste trabalho está no confronto entre o mundo real, imperfeito e limitado e o mundo desejado, irreal e inatingível.

 

A estética proposta nas pinturas sai das páginas das revistas de moda em forma de apropriação de fotos de propagandas voltadas ao mercado de luxo, e apresentam mulheres sofisticadas, sempre jovens e loiras, como ícones de beleza, desejáveis num mundo real, mas criadas para um mundo perfeito, como se esta fosse à verdade absoluta e facilmente atingível por todos nós.

 

Sobre as pinturas são colados adesivos vinílicos de baratas e moscas em total desacordo com as atraentes e luxuosas figuras. A revelação da realidade nem sempre perfeita traduzida nos insetos repugnantes  tem a intenção de questionar sobre a efemeridade da beleza, a velhice e a morte assuntos inexistentes na propaganda de consumo.

Exposição na Pinacoteca da Universidade Feevale, NH/RS - 2010

Comentário crítico.

 

 

A PINTURA sendo influenciada por elementos externos a ela

Na tua pintura vemos uma “contaminação ” do meio publicitário, dos artigos de luxo para o publico feminino. A estética predominante nos anúncios é altamente sofisticada e idealizada, a ponto de se tornar-se irreal, distorcida e “intangível”. Esta extrema idealização lembra (ou pode ser relacionada com) a própria situação idealizada da pintura como principal categoria artística e manifestações da alta cultura. Num mundo ideal, a pintura falaria apenas dela mesma, seria veiculo principal na arte de uma “elite” e não se deixaria contaminar por elementos  mais “baixos” da cultura popular, etc. Acho interessante relacionar estas duas coisas: a pintura como manifestação elitista e representante da alta arte com os anúncios publicitários: que são também elitistas e propalam uma “arte para poucos” (um estilo de vida, uma estética e um código especifico).

 

O BELO como questão (e não como prerrogativa fundamental). Na arte grega o belo era referido como tendo 3 dimensões: estética, moral e espiritual. Isto é claro, teve grande influência na arte ocidental. Pode se argumentar que hoje estas 3 dimensões estão dissociadas e travestidas (pervertidas mesmo) por interesses muito mais mundanos: estética serve para vender perfume, moral não existe e espiritualidade e mais uma forma a ser explorada comercialmente.

 

A MÍDIA é a principal produtora de imagens hoje, função anteriormente dada à pintura. A mídia produz mitos e idealizações, coisas que a pintura também fazia. A mídia também “produz” o gosto, o pensamento dominante, uma “elite” intelectual e social, o consumo, etc. função que a arte também tem. O mundo da arte sofre influencia da mídia e também faz uso dela (geralmente como forma de divulgação) e a mídia faz uso da arte (geralmente como forma de legitimar-se). Existe aí, portanto uma relação de proximidade até cumplicidade. A arte e a mídia tem uma relação incestuosa que teus quadros de alguma forma refletem.

 

A BARATA  no teu trabalho, ela ao mesmo tempo é e representa o real. A barata (assim como os ratos e sangue) é um vetor e símbolo de contaminação. Se na tua pintura existem baratas ela está se deixando contaminar ou está sofrendo uma contaminação forçada. Nos dois casos existe uma tensão: o mundo puro da pintura (publicidade)está sendo invadido por elementos de “outra classe”, impuros e doentes. Se a barata é verdadeira (o inseto vivo) esta contaminação é literal, ela realmente acontece. É como se o “sistema” da pintura entrasse em choque.

 

O RETRATO é uma das grandes tradições da pintura. Hoje ele é fortemente influenciado pela fotografia e também pela mídia. Teus retratos são apropriações selecionadas de fotografias veiculares, concebidas e tratadas pela mídia. Existe um afastamento aí: não retratam alguém diretamente mas sim uma imagem midiatizada. Esta imagem foi excessivamente manipulada e tratada para redefinir uma idealização. Não há, portanto “naturalidade” em teus retratos. Neste sentido não são exatamente retratos (no sentido de capturar o que alguém realmente é) mas imagens de pura aparência e simulação. São anti-retratos (!). Isso relaciona-se com um fenômeno corrente: não sabemos quem somos , simulamos um personagem (persona), uma aparência.

 

 

 Richard John

Professor orientador  do  TCC - em

Poéticas Visuais e Processos Híbridos - 2010

 

Cavalli - 150cmX100cm

Prada 2 - 150cmX100cm

Prada - 150cmX100cm

Dior - 150cmX100cm

Tom Ford - 150cmX100cm