O DESENHO ESPACIAL DA VIDA

 

 

Estamos à frente de uma arte absolutamente pensada, programada, cerebral. Cálculo resultante de uma breve experiência anterior no terreno da escultura. Porém, as formas criadas por Magna Sperb guardam coerência com seu fazer artístico anterior, quando usava a figura humana e seus desdobramentos poéticos e críticos, nos quais flagrava-se certos grafismos na roupagem de seus personagens.

Hoje, Magna parte para o domínio de um universo aparentemente restrito, hermético, sem que haja uma referência explícita para o espectador encontrar e amparar-se em algum ponto do mundo real. É um corte em sua trajetória, uma aventura corajosa, ousada, desafiadora.

Mas o artista tem que provar a si essa capacidade de ousadia. Ele mesmo busca e resolve seus problemas de ordem ética e estética mergulhado na pesquisa e na incerteza, em sua solidão, no silêncio de seu atelier, consumindo horas, trabalhando, riscando, armando, jogando, manipulando e até brincando com seu trabalho. E isso se traduz em vida. Essas formas, que significativamente foram nominadas de “Entrelaçados”, nos ofertam uma pista dessa aventura possível, agora  materializada diante da nossa visão. Elas dançam, se retorcem, se interpenetram, cruzam-se em suas linhas num balé permanente, um ritmo intenso em que a cor é luz e é sombra, espaços intercalados, cheios e vazios se movimentam à nossa visão.

É uma proposta de desenho espacial, pulsante e em franca expansão. Suas cores vibráteis revelam – simbolicamente – a alegria e a  dinâmica que as impulsiona.

Em outros casos, a ação do tempo, como a ferrugem, é uma espécie de voz que emerge e fala de vida e morte.

 

 

Renato Rosa

Coautor do “Dicionário de Artes Plásticas no Rio Grande do Brasil”